É sabido que as sondagens têm, ou podem ter, um efeito perverso que às vezes é em si mesmo imprevisível.
Recordo-me de umas eleições autárquicas no Porto em que o vencedor apenas ganhou porque os apoiantes do candidato perdedor (hoje, um ilustre e principescamente remunerado administrador não executivo da Galp) relaxaram de tal forma com as previsões de vitória retumbante que as sondagens anunciavam que acabaram por não ir votar. E foi uma "maçada", porque o voto numa sondagem é uma coisa e o voto nas urnas é o que conta e assim ganhou o "under dog".
Mas nunca como nestas eleições este efeito me pareceu tão relevante nesta fase. Aliás, julgo partilhar esta impressão com Paulo Portas, pois é nesse sentido que interpreto as suas afirmações no que respeita à sondagem que na semana passada dava o PS a aproximar-se do PSD até ao empate técnico. Disse então Paulo Portas que essa sondagem servia justamente os interesses do PS e PSD e eu concordo.
Mas há algo de gambling neste aproveitamento que PS e PSD tiram das sondagens. Um joga no factor medo do PS manter o poder, outro joga no factor medo da "direita" (por "direita" leia-se PSD) chegar ao poder, ambos disputam o mais estúpido dos votos que é o voto útil.
O CDS, desta vez mais do que noutras, também entra nas contas. Provavelmente, nestas eleições, o CDS irá buscar votos ao eleitorado que vota normalmente no PSD e, ou muito me engano, no próprio PS (evidentemente que em menor medida). Ora, são estes eleitores que poderão dar ao CDS um resultado como há mais de 30 anos não se vê, mas por outro lado estes eleitores são os mais atreitos a no momento da decisão desviar o voto para o seu partido de sempre.
Quero com isto dizer o seguinte, o CDS para ter o resultado que tem potencial para conseguir (na minha "sondagem privada" qualquer coisa entre os 14% e os 16%) não pode relaxar, em especial por causa do risco de voto útil que as sondagens que a toda a hora saltam para a comunicação social potenciam. Para o CDS a hora é de trabalho e trabalho a sério.
Por outro lado, como elemento estabilizador das coisas temos o facto dos líderes dos três maiores partidos continuarem iguais a sí próprios e nessa medida dão alguma previsibilidade à evolução do cenário:
José Sócrates continua pouco fiel aos factos, coisa que já irrita demais demasiada gente. Mas não tenhamos ilusões, ele continua eficaz no seu estilo de "guerrilha urbana".
Passos Coelho continua errático e quando fala em vez de ouvidos atentos tem, da parte dos seus apoiantes, mãos na cabeça. Mas só perderá verdadeiramente a chance no momento em que os eleitores deixem de ver nele diferenças significativas com José Sócrates.
Paulo Portas continua razoável e coerente no discurso (muitíssimo bem preparado, diga-se), com a eficácia de forma que até os detractores lhe reconhecem.
Concluindo, para o CDS não ser apanhado no efeito perverso das sondagens tem um antídoto - trabalhar, trabalhar e trabalhar.