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Rua Direita

Rua Direita

06
Jun11

Análise final e imparcial (tanto quanto possível)

Luís Pedro Mateus

Em coerência com a análise prévia que aqui tinha feito, importa deixar algumas considerações em relação a cada uma das forças políticas:

 

O PSD ganhou bem folgado, confirmando uma votação melhor do que as sondagens apontavam. No entanto, ficou bastante longe da maioria absoluta pedida por Passos Coelho e, além disso, não conseguiu chegar aos 40% (uma espécie de vitória mais "redonda"). O facto de não ter conseguido chegar aos 40% não é importante por si, apenas tem algum relevo se se pensar que Barroso a conseguiu e não concorreu num panorama de desgraça como o de agora, nem contra um Primeiro-Ministro tão mal visto pelos eleitores. De facto, o PSD poderia ter conseguido mais, mas o resultado compreende-se face ao risco da estratégia assumida pelo líder (ele próprio o confessou) na apresentação de algumas propostas.

 

O PS foi um claro derrotado, e José Sócrates a face dessa derrota, apesar de ter tido um excelente discurso de despedida. No entanto, não foi uma hecatombe. O PS, ainda assim, aguentou 1.500.000 eleitores e ficou a 2 pontos dos 30%.

De facto, é curioso reparar que a derrota do PS (28%) ficou a 1 ponto da derrota do PSD em 2009 (29%) e a vitória do PSD (38,6%) ultrapassou apenas em 2 pontos a vitória do PS em 2009 (36,6%). Precisamente por este facto, não me parece que se possa falar duma grande vitória e de uma grande derrota. Se assim fosse, teria de se dizer que em 2009 o PS tinha obtido uma grande vitória e assim não foi. A maior magnitude desta vitória laranja encontra ressonância, não se duvide, no facto de se ter conseguido o afastamento de José Sócrates e não tanto pelos resultados percentuais.


O CDS foi um vencedor relativo da noite. Relativo porque, pela primeira vez na sua história, não ultrapassou o que as sondagens lhe davam e igualmente porque, apesar de ter crescido em todos os indicadores, não cumpriu um objectivo assumido pela liderança: chegar aos 14% ou até ultrapassar.

No meio disto, pode-se o CDS congratular por ter crescido ao mesmo tempo que o PSD cresceu mais de 10%. Ou seja, fica a prova que os dois partidos têm capacidade de disputar uma grande variedade de eleitorado e não estão condenados a diminuir quando o outro cresce. A estratégia de apontar a resultado ambicioso por parte de Portas revelou-se decisiva na captação dos novos votantes que não se identificam com o sistema alternante PS-PSD e isso explica o CDS ter conseguido crescer em áreas urbanas e ter-se aguentado, e até crescido, face a um grande crescimento social-democrata. Ao mesmo tempo, essa mesma estratégia pode ter gorado a possibilidade de ultrapassar os 14%: algum do potencial eleitorado CDS, previamente PSD, poderá ter mudado de ideias uma vez desfeito o encanto "underdog" do CDS. Fica também o facto de as sondagens, apesar de terem sempre dado um bom resultado ao CDS, tendo apontado sempre a iminência dum empate técnico fizeram, como é óbvio, pender algum desses indecisos para o PSD.

 

O BE foi o maior derrotado da noite. Passou para metade dos deputados, para última força política e, a coroar a humilhação eleitoral, nem o seu líder parlamentar conseguiu eleger. Joga contra o BE, cada vez mais, o facto de já não ser novidade e de ter esgotado os seus temas fortes: o aborto já foi, o casamento gay também. O que sobra fica muito distante de conseguir, longe disso, mobilizar eleitorado a dar força ao BE. Junte-se a isto erros estratégicos de palmatória, contradições entre teoria e práctica (BE assumiu-se como alternativa, mas sempre que surge oportunidade de assumir responsabilidades, desbarata-a) e está explicado o desaire eleitoral. Fica mesmo no ar a possiblidade de o BE estar apenas à distância duma má escolha de líder e de outro desaire eleitoral de implodir por si e voltar a UDP, PSR e Política XXI.

 

A CDU foi a única vencedora da esquerda (se retirarmos o MRPP da equação). Conseguiu eleger mais um deputado, aumentou ligeiramente a sua votação e recuperou o 4º lugar ao Bloco, o que deve ter dado um gostinho especial à noite.

Fica a prova que é uma aposta segura manterem-se sempre coerentes na acção e no discurso. Um eleitorado fiel e, com uma renovação de jovens igualmente fiéis uma vez que, uma vez votante PCP, muito dificilmente o deixarão de ser porque lá está: o discurso é o mesmo e nunca mudará. Quando mudar, é o fim do PCP.

26
Mai11

A relativização da Verdade

Luís Pedro Mateus

O título parece assumir um poder e uma força merecedora da maior eloquência filosófica na abordagem à problemática.

 

Aviso já que defraudarei expectativas.

 

Limitar-me-ei a constatar essa evidência categoricamente afirmada no título do post.

 

O facto, a evidência que habita, em surdina, o senso comum do mais comum dos cidadãos, é que as palavras “verdade” e “política” são antónimos. E porquê? Porque razão a política não se parece coadunar com a verdade, no entender dos cidadãos?

 

A resposta é simples. Os políticos, pelas acções, pelos discursos, têm defraudado constantemente as expectativas da população. Uns mais que outros, outros com mais habilidade do que uns.

 

Mas a norma é que, normalmente, a “verdade” política serve uma agenda e é normalmente um engodo, um sofisma: uma meia verdade que esconde os factos que podem eles próprios, em parte e se usados como meia verdade, rebater uma parte dessa “verdade”.

 

São as "verdades" circunstanciais - as mais passíveis de serem tratadas na esfera de um maior pragmatismo e alguma relatividade - que catalizam todo este processo de praxis política que é a mais familiar ao cidadão. São os dados que, cirurgicamente, são escolhidos em detrimento de outros que poderiam fragilizar a conclusão ensaiada pelo memorizado guião. São as falsidades, puras e cruas que, repetidas até à exaustão e inseridas nesse mesmo guião, fazem a conclusão parecer mais verosímil e credível.

 

As verdades ideológicas não são tão fáceis de explorar neste tipo de exercício de relativização. Além de que estas, por norma, são abafadas da generalidade do debate político pela sua ineficácia em "atingir" a maioria do público. A "verdade" circunstancial, a verdade relativa, se bem usada, é mil vezes mais eficaz que mil verdades ideológicas porque mais facilmente apreensível e decorada.

 

Do uso e abuso desta praxis, os partidos acabam-se isolando em si próprios ao invés de dialogarem e debaterem uma Ideia de país, honestamente, como duas pessoas civilizadas o fariam no dia-a-dia. Cai-se recorrentemente nesse ciclo que é o “jogo” - daqueles em que todos perdem - da política.

 

A gravidade da situação, por se tornar senso comum que “eles não fazem nada” e que “são todos iguais”, é que esta ameaça caminhar numa direcção explosiva – uma total descrença no sistema democrático, já bem patente nos níveis de abstenção - que acarreta uma factura que a História ainda hoje paga.

 

Cabe à sociedade civil consciente e informada, mobilizar-se e pressionar por mudança. Falhados os movimentos de cidadãos tornados partidos, a mudança passará, quer-me parecer, pelos partidos políticos.

 

Enquanto a sociedade civil capaz e dinamizadora, ainda a maioria silenciosa, não se aperceber que a solução está em aproximar-se dos partidos para os mudar e não em afastar-se e deixá-los decair nos seus vícios, esta situação de divórcio entre cidadãos e política dificilmente será invertida.

 

Parece-me, numa análise nada relativista, que o CDS tem condições excepcionais para poder fazer parte deste modelo mais "aberto" e mais verdadeiro de democracia. Para além de ser um partido com um grande enraizamento ideológico e menos dado a deambulações relativistas reféns de tempo e espaço, é um partido desprendido da maior parte dos vícios que fazem os grandes partidos do poder isolarem-se do país real: o país dos abstencionistas, o país dos que votam em branco ou nulo, o país daqueles que votam a contragosto, em exercício negativo, para expulsar governante X.

 

Por esses grandes partidos do poder habitarem a lógica da política como ciência de obter o poder ou ciência de manter o poder, o CDS tem condições mais favoráveis para encetar uma campanha, um debate, um programa, um caminho mais esclarecido.

A distância dos vícios, o enraizamento ideológico que alicerça o sonho de servir e de fazer diferente e melhor aproximam o CDS da visão aristotélica da política como práctica do bem comum e diferem-no da mera definição maquiavélica da política como ciência do Poder. Imprimem no discurso e no percurso uma noção de que a Ética deve ser um desdobramento natural da Política e, mesmo que com deslizes ocasionais (que têm de fazer juz à máxima de que nada é perfeito) tal noção é omnipresente no enraizamento ideológico do CDS.

 

Essa mesma diferença, não duvidemos, é um charme irresistível que tem marcado a diferença numa campanha embriagada de "verdades" para sempre condenadas a serem implacavelmente vergadas à tentação de relativismos.

 

É por aqui que o CDS tem de ir. Não poderá ser de outra maneira.

20
Mai11

Lembrete a mim mesmo

Luís Pedro Mateus

Do debate de hoje entre Sócrates e Passos Coelho, mais do que o arremesso de argumentos e críticas, mais do que a observação da táctica política, ficar-me-á na retina, porque disso não me conseguirei abstrair, que ambos são fruto dum mesmo percurso pessoal que repudio: o do indivíduo que ingressa cedo na política e que em tudo o que fez na vida, fê-lo e conseguiu-o apenas por ser do PS ou do PSD. E a culpa não será deles, talvez. A culpa é mesmo da lógica interna que habita tanto PS, como PSD.

 

Olhe-se para o percurso de Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Paulo Portas e descubram-se as diferenças. Todos eles tiveram uma vida profissional fora da política e independente dela.

Dou valor a isso. Se calhar sou picuinhas.

16
Mai11

Manifesto-me pelo manifesto

Luís Pedro Mateus

O manifesto eleitoral do CDS agrada-me. Melhor, agrada-me imenso.

De facto, lendo-o todo e, de todas as propostas, apenas uma ou duas me provocarem discórdia, é obra.

 

Não concordo com o facto do CDS não querer privatizar a RTP. Não faz sentido, em nome dum "serviço público", manter todo um grupo que, ano após ano, mais não é do que um autêntico sorvedouro de dinheiro público. Não faz sentido, em nome dum "serviço público", manter um canal estatal que, apesar de ser serviço público, nenhuma diferença nele se vislumbra (a nível de conteúdo) em relação aos outros canais privados. Salvo o facto de esses darem lucro, e este não. Queriam um canal público? Houvesse pelo menos a audácia de apenas manter uma RTP2, por exemplo. E a Antena 1, talvez. Ponto resolvido. RTP1+RTP2+RTP Madeira+RTP Açores+RTP África+RTP Internacional+RTP N sobre o guarda-chuva estatal é, no mínimo, vício de país rico. Com as rádios a mesma coisa. Segundo me parece, o grupo RTP detém para cima de 10 rádios.

 

Não concordo com o facto do CDS não querer privatizar os metros de Lisboa e Porto. Porquê?

Porque, apesar de eu considerar que é necessário haver pelo menos uma rede de transporte público e que esta é vital para manter os preços acessíveis ao movimento da população numa grande cidade, não considero que seja necessário, para além dos autocarros (como é o exemplo de STCP e Carris), ter também, sob alçada estatal, redes de metro a competir com essas mesmas empresas de autocarros nos percursos e nos preços. 

 

Tudo o resto, salvo raríssimas excepções, contam com a minha total concordância.

No geral, entendo este manifesto como um manifesto pragmático e equilibrado. Sei que talvez alguns militantes ou eleitores mais liberais esperariam mais a nível da reforma de alguns sectores do Estado (no que toca a privatização de mais empresas). Mas este manifesto, não nos esqueçamos, é um conjunto de propostas, um rumo para os próximos 4 anos. Logo aí, obriga-o a ser focado e a centrar-se no essencial, no que é exequível e não a perder-se em purezas ideológicas. E nesse aspecto, as reformas apontadas, correndo bem, poderão ser apenas um começo, um ponto de partida para outras reformas mais de fundo para um futuro próximo.

 

Penso, acima de tudo, que com este manifesto o CDS foi coerente consigo próprio e com a sua história como partido.

 

13
Mai11

Poetas treinadores?

Luís Pedro Mateus

Sobre o CDS, Carlos Abreu Amorim diz que:

 

"O seu principal alvo tem sido o PSD - para já, os ataques à governação socialista apenas surgem como o intróito ambiguamente contextual às arremetidas principais"


"O CDS tem-se conduzido como um aliado estratégico e preferencial de Sócrates, estabelecendo tacitamente com este uma profícua prática concertada que visa arrochar o PSD entre duas tenazes."


"Tudo indica que Portas quer retornar ao poder seja qual for o parceiro partidário."

 

Estou preocupado com o Carlos Abreu Amorim.

 

O que é que pode explicar que se esqueça de quem tem sido o partido com as declarações mais agressivas em relação ao CDS? (e não, não foi o BE)

O que é que pode explicar, como já disse o Tiago, que se esqueça de quem tem sido o partido verdadeiramente "aliado estratégico" de Sócrates, com aprovações de todos os PEC e Orçamentos de Estado?

 

O que é que pode explicar que Carlos Abreu Amorim (candidato por um partido cujo líder, no espaço de 3 meses, teve 3 posições diferentes quanto a integrar governo com Sócrates) ignore que Portas já disse preto no branco, por mais que uma vez, que a haver coligação, o parceiro mais natural é o PSD e, como se não bastasse, ter dito, também preto no branco, e mais que uma vez, que com Sócrates "jamais"?

 

Toda a gente sabe que o Carlos Abreu Amorim padece daquela doença crónica que se manifesta no uso desmedido de palavras para dizer uma frase que apenas precisaria de três.

 

Talvez o Carlos Abreu Amorim, imbuído na mesma confusão que o fez passar pela Nova Democracia, agora pense que é poeta. Um Fernando Pessoa.

Mas não é.

 

Ou talvez pense que é treinador de futebol. Talvez pense que é o Manuel Machado, já que lhe admira o dialecto (e é obcecado com "A táctica").

Mas não é.

 

Talvez seja um pouco dos dois: um histero-neurastênico com discurso de treinador de futebol.

10
Mai11

Portas vs Sócrates

Luís Pedro Mateus

Saldo rápido do debate de ontem: ao contrário de 2009, em que o debate entre os dois me pareceu muito equilibrado, ontem Portas saiu com ligeira vantagem. Estava mais calmo, soube resistir às provocações e insistir nos pontos que mais doíam a Sócrates.

 

Sócrates, por outro lado, apesar de ter tido um bom começo, não conseguiu disfarçar a sua falta de calma e irritação em alguns momentos. Penso que saiu a perder com toda a encenação da capinha vazia e com o show final de olhar a câmara, como se estivesse a olhar directamente para os portugueses. De resto, na sua cartilha, esteve impecável. Nem outra coisa seria de esperar. Ela está minuciosamente decorada por toda a máquina do PS.

 

Alguns pormenores:

 

1) Primeiro, Sócrates acusou o CDS de não ter qualquer proposta e de apenas ter querido fazer cair o Governo, para pouco tempo depois dizer que as propostas do CDS (agora já as tinha) eram populistas e iam todas no sentido de aumentar despesa, e não de reduzir.

 

2) Penso que faltou a Portas insistir, preto no branco, nem que para isso fosse preciso repetir, as propostas de reduzir os vencimentos e o número dos gestores de empresas públicas que o PS chumbou, as tentativas de suspender as grandes obras e a suspensão de novas PPP. Referiu, ao de leve, o TGV e as PPP. Penso que se abordasse os vencimentos dos gestores das empresas públicas, apesar de não ter tanto peso no orçamento, teria mais peso na percepção popular.

 

2) Sócrates acusou Portas de chumbar o PEC4 e agora assinar o acordo da troika, que tem todas as medidas do PEC4. Portas esteve bem aqui, em quase toda a argumentação. Centrou-se nas diferenças e nos erros do PEC4 no que tocava as pensões mínimas e esse foi um dos pontos mais baixos para Sócrates, desmentido que foi em directo. Faltou no entanto, a meu ver, salientar que para além das grandes diferenças entre os dois planos, a maior diferença é que este vem com a contrapartida de um empréstimo que é essencial para a sobrevivência financeira do país.

 

No geral, um bom debate. Portas soube dosear a argumentação e as intervenções para vários públicos-alvo. Misturou interpretações de dados económicos (que nem toda a população percebe) com considerações mais básicas e acessíveis. Salpicou isto com duas frases fortes como "vive na estratosfera" e "mente mal" que, convenhamos, muita gente gostaria de ter a oportunidade de dizer a Sócrates olhos nos olhos. Não se duvide que Portas, no terreno, receberá os devidos louros do povo por ter tido a audácia de o dizer.

09
Mai11

Onde estavas, PSD?

Luís Pedro Mateus

23 de Novembro de 2010:

 

O Parlamento rejeitou uma proposta do CDS para suspender as grandes obras públicas em 2011, com os votos contra do PS, Bloco de Esquerda e PCP e a abstenção do PSD, na votação na especialidade do Orçamento do Estado.

 

Defender agora, depois de a troika o recomendar, é muito fácil. 

Mas há seis meses o PSD ainda achava que o rumo socialista de despesa e dívida para o país era ainda viável ou, pelo menos, não preocupante.

 

Houve quem não o achasse.

07
Mai11

Directamente de Marte

Luís Pedro Mateus

Ouço, na convenção do BE, mais do que uma vez, que Portugal não precisa de pagar a dívida e que bastava seguir o exemplo da Islândia. Porque é que se tenta fazer passar a imagem que a Islândia se está a recusar pagar a sua dívida, quando na verdade o que lá foi a referendo era o pagamento, ou não, a depositantes estrangeiros do dinheiro que tinham num banco privado? Desconhecimento puro ou engodo propositado?

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