Patiotrismo
Numa carta a Pinheiro Chagas, salvo erro, Eça estabeleceu a imperecível distinção entre patriotaças, patriotinheiros, patriotadores e patriotarrecas.
Ocorreu-me isto a propósito deste texto do Daniel Oliveira, embora não lhe faça a injúria de o encaixar em qualquer das categorias.
Os actuais e parte dos futuros governantes que Daniel - abençoada lucidez - já não tem dúvidas quem venham a ser, são taxados de "comissários" e "capachos", por se prontificarem a seguir a dolorosa receita que os credores propinam para, encostando a barriga ao balcão para nele alinharem 78 mil milhões, terem um módico de garantias de que irão ver de volta, se não tudo, ao menos uma parte do óbolo.
Neste desprezo envolve também os eleitores, porque, nas palavras dele, "A maioria dos portugueses acha que merece ser tratada com este desprezo. Aplaude a chegada do colono e acredita que ele vem pôr a piolheira na ordem. Aceita o insulto sem um protesto."
Eu discordo das escolhas que os meus concidadãos têm feito - há muito tempo. E não acho sequer que no próximo Domingo vão fazer a melhor escolha, apenas vão na boa direcção. Mas cada qual lê a Alma Portuguesa como quiser: a minha interpretação é que a maioria dos Portugueses, no nevoeiro dos números, das explicações do passado e das projecções do futuro, intui que não é mais possível continuar ano após ano a gastar mais do que se tem; e que, sendo necessário produzir mais e pagar a quem se deve, não é com a Esquerda ao timão que isso pode suceder.
Daí a passividade - não de uma qualquer atávica e bovina inferioridade.