Reféns
A nossa bancarrota é o resultado de um somatório de políticas erradas, já o sabemos.
Entre elas está aquilo a que se pode chamar uma gestão danosa do sector empresarial do Estado. Em particular no sector dos transportes, em que a dimensão das empresas e a essencialidade dos serviços prestados potenciam um peso acrescido dos sindicatos, essas políticas traduziram-se numa espiral de cedências a reivindicações corporativas - de acréscimos salariais, subsídios, regalias e excepções da mais variada ordem -, sem nunca aparentemente se ter pensado que um dia talvez se batesse no fundo.
Interessava a todos, pois os gestores também iam construindo o seu regime de excepção muito próprio, feito de remunerações desproporcionadas e ausência de efectivo controlo dos resultados da gestão. E os políticos "accionistas" eram os últimos interessados em impedir esta escalada, que lhes prometia reformas douradas num mundo empresarial perfeito, em que os lucros não eram contrapartida do risco.
Agora que batemos mesmo no fundo com estrondo, lemos aqui e ali coisas como esta: o sindicato dos tripulantes da TAP está disposto a empreender uma greve total de 10 dias que causará 50 milhões de prejuízo à empresa, em resposta ao anuncio da medida de redução de um elemento por voo. A medida faz parte do cumprimento do acordo com o FMI, que impõe uma redução de 15% nos custos do sector empresarial do Estado.
E percebemos que provavelmente estamos reféns do monstro insaciável e tentacular que criámos.